Poemas da pintora e poetisa
Nelly Bianchese Covolato
O GAUCHO
(Oferecido ao Dr. Ruy Ramos, Dep. Federal RS.)
Gosto de ver o gaucho
De lenço ao pescoço atado
Que aguenta qualquer repuxo
Que lhe caia no costado.
Com ele ninguém se meta
Se paga para em briga não ir,
Depois que mete a paleta
Paga mais pra não sair.
Retira do coração
As mágoas que cabresteia
Ele é por tradição
Feliz por onde se apeia.
E por seu pampa querido,
Sempre dá sua preferência
Muito embora haja nascido
Num galpão da sua querência.
MEU RIO GRANDE DO
SUL
Hoje sinto uma saudade
Do meu Rio Grande querido
Lá deixei muita amizade
E o meu cusco preferido
Que saudade do rodeio,
Da cuia, do chimarrão
Do pingo, do meu arreio,
Do churrasco de galpão...
Daquela carreta chiando,
Da lua da cor de prata
Que no céu fica brilhando
Nas noites de serenata...
Dos bailecos do ranchinho
Na noite de São João,
Me recordo com carinho
Pra maior judiação...
A tarde lá no horizonte
Se
divizam os pinheirais
Que ficam em cima
do monte
Como taças de cristais
No campo o quero-quero
Com o seu grito estridente
Cuida tudo com esmero
Como um soldado valente
No inverno a geada
Vai caindo de mansinho
.
Começa de madrugada
Acaba com o sol saindo
Da saudade do meu pago
Só resta uma solução
Desabafar com um trago
As mágoas do coração.
MAMÃEZINHA
(Dedicada à minha mãe, Ignes Soares Bianchese)
Aquela doce velhinha
Que o tempo seu rosto enrugou,
É minha santa mãezinha
Que a tantos filhos amou!
Aquele corpo fraquinho
Quando moço deslumbrou...
Hoje está tão curvadinho
Por desgostos que passou
Ela era minha vida
Meu tudo, meu grande amor!
Curava qualquer ferida
Melhor que muito doutor.
"MAMÃE, pisei meu pezinho,"
"dizia com um ar brejeiro"
E ela com um só beijinho
Curava tudo ligeiro...
Passa tudo como um vento,
Só fica a recordação,
Dura tudo um só momento,
Como bolhas de sabão!...
CADEIRA VAZIA
( Ao Emílio, 7/1996)
Eu não sabia que te amava tanto,
Agora é tarde para te dizer
Mas tu sabias, tenho certeza o quanto
Eu te adorava sem nem sequer saber!
Mas hoje ao ver tua cadeira
vazia
Eu sinto muita vontade de
chorar!
Ponho na mente então
a fantasia,
Que estás sentado ali a
me adorar.
E continuo minhas telas pintando
O dia inteiro, as vezes sem parar.
E assim aos poucos vou me conformando
Porque bem sei que nunca vais voltar!
AMOR PLATÔNICO
Marcamos muitos encontros
Mas não consegui te ver
Encontros e desencontros
Foi só o que pude ter.
Se eu partia tu chegavas,
Quisera as vezes morrer!
Dizias que me amavas,
Eu sabia podes crêr!
Mas na encruzilhada da vida
Um dia estarei te esperando!
Farei que estou de "partida"
E tu estaras "regressando"
Num banco estarei te esperando,
Com meu vestido de gala
E tu, de negro chegando
Já apoiado na bengala
De mãos dadas caminhando.
Sem olhar o que ficou
Um no outro se apoiando,
E foi tudo o que restou!
AS DUAS EMPREGADINHAS
Parece vê-las saindo,
Com seus vestidos de chita...
O sol ia se sumindo,
Era uma tarde bonita.
Para o baile lá se
foram,
Na véspera de São
João.
À noite as mocas
dançaram,
Com os caboclos do sertão.
Uma, tinha 15 anos.
Achava encanto na vida!
Nunca teve desenganos
Foi no baile a preferida.
A mais moça usava trança,
Pois era "flor em botão",
Nem sequer olhou a dança,
Preferiu soltar balão!
Com o passar dos anos,
Seus vestidos desbotaram,
Com eles, os desenganos,
Suas ilusões mataram!...
Hoje, ao vê-las passando,
Como dói meu coração!...
Fico então, me recordando,
Da noite de São João...
Aqueles vestidos um dia...
Eu lhes dei como lembrança!
Se pudesse hoje daria,
Seus bons tempos de criança...
FANTASIA!
Quero ser a tua fantasia,
Nas noites de tristeza e solidão!
Ser a dama de negro da poesia,
Ser motivo de tua inspiração!
Quero ser a borboleta d'alvorada
Que repousa sobre a flor
do teu jardim!
Quero ser tudo, mas sei
que não sou nada,
Pois os sonhos, de dia,
tem seu fim.
ADORMECER
Quisera adormecer
E nunca mais acordar
Cessaria meu sofrer
Deixaria de te amar!
Liberta do corpo estaria,
Para então poder
sonhar!
Voaria, voaria,
Como pluma pelo ar!
E entre nuvens descendo
Bailando de vagarinho,
Entre tuas mãos ir morrendo
Por não ter o teu carinho!!!
MARA
Minha filha tão querida,
Já completou nove anos,
Ela é toda minha vida,
Nunca me deu desenganos.
Amanhece já sorrindo,
Com seu rostinho mimoso,
Assim os dias vão
indo,
Cada qual mais venturoso.
Não me sai do pensamento,
Seu sorriso, seu jeitinho,
Quando alguma história invento,
Do leão ou do ratinho
Às vezes falha a memória
E digo, quando uma acabo:
Não conto mais outra história,
Porque senão, crio rabo.
Logo após reza uma prece
Ao seu Menino Jesus
E depois, quando adormece,
Suavemente apago a luz.
Qualquer dia ela cresce,
Minha história já não quer,
Seu coração refloresce
Num encanto de mulher.
Depois, a realidade,
Que mata qualquer ilusão
Deixa somente a saudade
No meu meigo coração.
VIVER!
Viver, é sentir dentro do peito,
Um coração que sabe palpitar,
É tranformar em puresa algum defeito,
É sorrir quando se quer chorar.
Viver, é banir do
pensamento,
Toda amargura, toda desilusão,
É fazer que cada
sofrimento,
Dê maior ternura ao
coração.
Viver, é estar sempre cantando,
Mesmo quando noss'alma está sangrando
E com mais vontade de morrer!
Viver, é estar sempre contente,
Muito embora se viva diferente,
Daquilo tudo que desejamos ser.
QUE SERÁ
Não sei se isto é amor,
Ou rimas de poesia!
É uma espécie de dor,
Que supera a fantasia!
Como um "sem terra"
entraste,
Sem nem sequer me avisar.
Meu coração
arrombaste,
Para sempre ali ficar!
E
como um posseiro, cortando,
Arames do meu rincão,
Foste
assim, te apossando,
Do
meu meigo coração.
Não me sais do pensamento,
Noite e dia sem cessar.
É uma espécie de tormento,
Que não sei como explicar!
Nelly Bianchese Covolato